sexta-feira, 15 de julho de 2011

Franco Berardi, Fito Páez e o projeto "eu quero a vida por inteiro"

Grande achado! Recentemente li uma entrevista do Franco Berardi no jornal argentino Pagina 12, compartilhado no FB(quase I) por minha amiga Jimena Massa. O filósofo e "agitador cultural" italiano - como descreve o insuspeitável site wikipedia - falava sobre a deserotização da vida cotidiana, ou como a nossa felicidade não era nada subversiva... A entrevista do Berardi veio ao encontro de coisas que tenho pensado demais nos últimos tempos. Tenho que admitir que há uma influência esotérica também: estou em pleno retorno de Saturno. Bueno, e somada à entrevista de Berardi ainda encontrei, por acaso no mesmo Página 12, um texto do Fito Páez - aquele mesmo, compositor de "Track, track", tão famosa no Brasil - e aí formou: descobri que queria escrever sobre a sufocante caretice atual.


O Bifo - como Franco Berardi é popularmente conhecido - é um daqueles ativistas elegantes, plugados em todas as formas de comunicação em curso, desamarrados das convencionalidades fáceis. Difícil achar um texto dele traduzido para o português, infelizmente. Até onde consegui pesquisar na rede, descobri que nasceu em Bolonha em 1949, é filósofo, tem perfil no facebook mas já está lotado, junto com Guattari se envolveu no processo de constituição das rádios livres na Europa, nos 70' e 80'... A análise que faz da atual fase do capitalismo é simplesmente fantástica. Em um texto no Generation-Online, traduzido pelo jornalista Diego de Carvalho e publicado no blog "Pesquisa, resistência e outras coisas", Bifo diz que há dois lados da economia pós-moderna nos últimos 30 anos: a "net-economy" e o "capitalismo criminoso":  


A net-economy é baseada na colaboração e compartilhamento, na criação de novas formas de administração da atividade social. A net-economy desafia o principio proprietário que reinou na sociedade capitalista moderna. A fim de repensar e reimpor o domínio proprietário, o capitalismo reagiu de forma criminosa: a face criminosa do capitalismo é baseada no abandono de toda regra legal na busca de lucro e santificação da competição. Políticos criminosos levaram a economia global para a desordem presente, mas os criminosos estão ainda no poder em todas as nações, enquanto eles falharam em governar a realidade caótica criada pela desregulação. [...] 

A primazia da competição sobre qualquer domínio ético, político e legal, diz ele, é um grande impasse gerado pelo capitalismo criminoso dos últimos tempos a que a net-economy faz frente e resiste. O princípio sagrado da propriedade privada é minado cada vez que clicamos, compartilhamos... Parece ingênuo, mas vejo com bons olhos as pequenas ações cotidianas na rede. Alguém aí sabia que o Fito Páez está bombando na net depois de declarações sobre as eleições de Buenos Aires? Incrível! O compositor - sobrevivente de uma ditadura militar sanguinária - vem à rede se pronunciar sobre a caretice do capitalismo criminoso, de políticas públicas conservadoras vindas de "gente sin swing". Demais! E acho que o boom dessas ideias, da noite pro dia, acionam na gente uma vontade louca de se manifestar, compartilhar a angústia de viver sob a moralidade fracassada do capitalismo. Não nos damos conta de que o próprio meio intelectual, sempre um oásis para os desajustados, se mostra completamente careta e dependente. Opera com lógicas elitistas, estabelece etiquetas esquizofrênicas... e o resultado qual é? Bifo é certeiro: a deserotização do cotidiano...também acadêmico, artístico. De que adianta sermos "velhos libertários"? É quase como sermos "caretas atuais". Ou não é? Fica aqui um manifesto bem conhecido dos meus amigos mais chegados: EU QUERO A VIDA POR INTEIRO! Eu quero o desbunde por inteiro, e não uma pseudo mente aberta que se fecha cada vez que o meu interesse precisa ser adequado ao interesse coletivo. 

Taí o texto do Fito no Página 12:
http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/subnotas/172161-54651-2011-07-13.html



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