quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quem manda aqui sou eu!


Tá difícil. Ultimamente tenho me deparado bastante com a seguinte frase: "Não sou preconceituoso, mas...". A última foi com relação a notícia de que pai e filho foram agredidos por estarem abraçados em uma feira agropecuária no interior de São Paulo. Os dois foram confundidos com um casal homossexual. Muitos reacionários ficaram chocados, afinal, perceberam que a violência e ignorância pode atingir qualquer um. Se colocar no lugar do outro sempre foi muito difícil, então foi preciso uma notícia como essa pra que alguns ficassem "tocados". No entanto, sem descer de seu pedestal de arrogância burra, continuam a bater na mesma tecla: "Não sou preconceituoso, sou contra qualquer violência, mas homossexuais não precisam de uma lei específica". Aí eu me pergunto: o que move uma pessoa a ser CONTRA a ilegalidade da homofobia???? O que ela ganha com isso? Bom, vamos tentar entender essa atitude. A pessoa pode ser homofóbica e não querer ser penalizada por isso. Ela pode querer ser, um dia, homofóbica (pode passar um casal gay por ela na rua e ela sentir vontade de bater ou xingar), mas não querer ser penalizada por isso. Ou essa pessoa, então, acha que os gays devem mesmo sofrer violência e discriminação e não quer que isso seja penalizado. Tem alguma outra explicação? Por favor, me ajudem, tem?! Tem! E tenho impressão que é a mãe de todas:

"Não quero que a homofobia seja crime porque não quero, não sei explicar, mas não quero! Sou eu quem mando nessa porra: sou eu, homem, branco, heterossexual, rico e cristão que sempre decidi o que era normal, justo, natural e belo no mundo. E ponto final!"

Quando eu penso em desanimar, arrancar os cabelos, me matar... eu lembro, tem um monte de gente como eu, com a arma apontada pra cabeça tentando prosseguir na luta, escrevendo, denunciando os abusos, colocando o bloco na rua e dizendo: "Não! Não é você quem manda nessa porra!". Como é o caso de inúmeros blogueiros por aí. Hoje vou citar o Bob Fernandes. O texto é fantástico, vale a pena:

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5250800-EI16410,00-O+moderno+reacionario+e+a+porta+de+entrada+do+velho+fascismo.html

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Coerência pouca é bobagem!

Eu às vezes tenho a impressão de que a incoerência é coerente demais. Vocês não têm? A onda reacionária desde a última eleição presidencial  (Dilma x Serra) tem me deixado bastante inquieta. De repente, ouvi pessoas esbravejando em comentários virtuais: "petralhas!", "esquerda de merda!", "comunista come criancinha, é a favor do aborto, do casamento homossexual!". Caramba! Do dia pra noite essa conversa pipocou. Levei um susto. Primeiro porque essa "esquerda perigosa" relacionada ao PT muito me admira. Ora... desde que o PT passou à situação que essa divisão esquerda/direita no Brasil perdeu sentido. Pra não dizer que nunca houve sentido algum. Mas enfim... o fato é que, como um sonho, a internet virou palco de uma guerra entre: direita, politicamente incorretos, contra-aborto, contra-união civil gay, separatistas do sul e sudeste.... e esquerda, politicamente corretos, a favor do aborto, a favor da união civil gay e não-separatistas. Dois blocos bem definidos e suas bandeiras. Aparentemente poderíamos pensar: "Mas alguém pode ser de direita e a favor do aborto". Sim, obviamente. No entanto, o mais assustador de tudo isso é que algumas questões viraram coisa de "direita" ou de "esquerda". É...rapadura é doce mas não é mole não... E agora essa história da legalização da maconha. Acho que teve reacionariozinho caindo das pernas quando viu o FHC naquele documentário "Quebrando o Tabu", do cineasta Fernando Grostein Andrade. 



Como eu disse no início do texto, a incoerência é coerente, é sim! Tá tudo certo com o Fernando Henrique agora defender a legalização da maconha... não é coisa da esquerda não! Eu morro e não vejo tudo. Fissurada como estou no trabalho do filósofo italiano Franco Berardi, acabei descobrindo um site na internet intitulado "Capitalismo". Chega a ser engraçado um domínio www.capitalismo.com.br, mas existe. O autor - o colunista d'O Globo, Rodrigo Constantino - esclarece tudo: se você é a favor do capitalismo e contra o PT você:
1. É a favor da liberdade econômica
2. É a favor do livre comércio
3. É a favor de mais policiamento nas ruas e mais UPPs
4. É a favor do aborto
5. É contra impostos altos
6. É a favor da liberdade de expressão
7. É a favor da legalização das drogas
8. É a favor da união civil gay.

É simples gente! Se você acha que essa lista não é nem um pouco coerente está por fora! Esse é o novo padrão de coerência. O único problema é que é uma coerência oportunista. Quando convém ao capital, que venham os abortos, drogas, direitos das minorias! Quando não convém... coisa de petralha, comunista, intelectualzinho de esquerda... Pois é! Eu ainda quero viver bastante pra ver o PSDB defendendo a reforma agrária e censurando a Veja...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Franco Berardi, Fito Páez e o projeto "eu quero a vida por inteiro"

Grande achado! Recentemente li uma entrevista do Franco Berardi no jornal argentino Pagina 12, compartilhado no FB(quase I) por minha amiga Jimena Massa. O filósofo e "agitador cultural" italiano - como descreve o insuspeitável site wikipedia - falava sobre a deserotização da vida cotidiana, ou como a nossa felicidade não era nada subversiva... A entrevista do Berardi veio ao encontro de coisas que tenho pensado demais nos últimos tempos. Tenho que admitir que há uma influência esotérica também: estou em pleno retorno de Saturno. Bueno, e somada à entrevista de Berardi ainda encontrei, por acaso no mesmo Página 12, um texto do Fito Páez - aquele mesmo, compositor de "Track, track", tão famosa no Brasil - e aí formou: descobri que queria escrever sobre a sufocante caretice atual.


O Bifo - como Franco Berardi é popularmente conhecido - é um daqueles ativistas elegantes, plugados em todas as formas de comunicação em curso, desamarrados das convencionalidades fáceis. Difícil achar um texto dele traduzido para o português, infelizmente. Até onde consegui pesquisar na rede, descobri que nasceu em Bolonha em 1949, é filósofo, tem perfil no facebook mas já está lotado, junto com Guattari se envolveu no processo de constituição das rádios livres na Europa, nos 70' e 80'... A análise que faz da atual fase do capitalismo é simplesmente fantástica. Em um texto no Generation-Online, traduzido pelo jornalista Diego de Carvalho e publicado no blog "Pesquisa, resistência e outras coisas", Bifo diz que há dois lados da economia pós-moderna nos últimos 30 anos: a "net-economy" e o "capitalismo criminoso":  


A net-economy é baseada na colaboração e compartilhamento, na criação de novas formas de administração da atividade social. A net-economy desafia o principio proprietário que reinou na sociedade capitalista moderna. A fim de repensar e reimpor o domínio proprietário, o capitalismo reagiu de forma criminosa: a face criminosa do capitalismo é baseada no abandono de toda regra legal na busca de lucro e santificação da competição. Políticos criminosos levaram a economia global para a desordem presente, mas os criminosos estão ainda no poder em todas as nações, enquanto eles falharam em governar a realidade caótica criada pela desregulação. [...] 

A primazia da competição sobre qualquer domínio ético, político e legal, diz ele, é um grande impasse gerado pelo capitalismo criminoso dos últimos tempos a que a net-economy faz frente e resiste. O princípio sagrado da propriedade privada é minado cada vez que clicamos, compartilhamos... Parece ingênuo, mas vejo com bons olhos as pequenas ações cotidianas na rede. Alguém aí sabia que o Fito Páez está bombando na net depois de declarações sobre as eleições de Buenos Aires? Incrível! O compositor - sobrevivente de uma ditadura militar sanguinária - vem à rede se pronunciar sobre a caretice do capitalismo criminoso, de políticas públicas conservadoras vindas de "gente sin swing". Demais! E acho que o boom dessas ideias, da noite pro dia, acionam na gente uma vontade louca de se manifestar, compartilhar a angústia de viver sob a moralidade fracassada do capitalismo. Não nos damos conta de que o próprio meio intelectual, sempre um oásis para os desajustados, se mostra completamente careta e dependente. Opera com lógicas elitistas, estabelece etiquetas esquizofrênicas... e o resultado qual é? Bifo é certeiro: a deserotização do cotidiano...também acadêmico, artístico. De que adianta sermos "velhos libertários"? É quase como sermos "caretas atuais". Ou não é? Fica aqui um manifesto bem conhecido dos meus amigos mais chegados: EU QUERO A VIDA POR INTEIRO! Eu quero o desbunde por inteiro, e não uma pseudo mente aberta que se fecha cada vez que o meu interesse precisa ser adequado ao interesse coletivo. 

Taí o texto do Fito no Página 12:
http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/subnotas/172161-54651-2011-07-13.html



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Crônicas meio antropológicas meio poéticas



Até ontem este blog era quase que um diário de campo das minhas pesquisas de pós-graduação. Vez ou outra aparecia por aqui e publicava uns dados, umas ideias... Posso dizer que ele já era meio antropológico. Mas faltava-lhe a poética que sempre me consumiu e atormentou. Aquela pimenta brava das paixões, ideologias, crenças que o texto antropológico acadêmico sempre desdenhou. Depois daquele papo ansioso com a Fabi na rua Dr. Faivre, perto da Reitoria, numa tarde neuroticamente quente do inverno curitibano acho que desaguei. Saí do armário e assumi o que não se pronuncia jamais na presença de uma cientista social: eu queria mesmo era ser jornalista! Pronto, falei: tenho saudade daquela vontade. Tenho vontade de ser meio isso meio aquilo, como se dizia que fazendo jornalismo eu seria. O famoso universo do "sei um pouco sobre tudo" - tão temido pelos amantes do eruditismo e introspecção intelectual. Não dá pra voltar no tempo e acho até que a antropologia me salvou de mim. Mas... atendendo a pedidos, começa hoje a minha fase blogueira, crônica, "meio antropológica meio poética" - fazendo alusão ao livro  do Antonio Prata.

O vídeo com a música do Elton John é pra fazer um brinde ao dia D!